quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Vest dicas: Só metade dos brasileiros entre 15 e 17 anos está no ensino médio

As políticas para acelerar os estudos de quem ficou para trás na infância não atingem os adolescentes de maneira satisfatória. Metade dos jovens com idade entre 15 e 17 anos não está matriculada na etapa da educação básica em que deveria estudar: o ensino médio. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2009 mostram que há mais de 5 milhões de estudantes nesta situação. No Norte, apenas 39,1% dos alunos nessa faixa etária cursa o ensino médio.
As taxas de escolarização líquida – índices que mostram quantos estudantes frequentam a etapa correta em relação à sua idade – melhoraram nos últimos cinco anos. Em 2004, 44,2% da população de 15 a 17 anos estava matriculada no ensino médio. Em 2008, o percentual superou a marca dos 50%, chegando a 50,4%. No entanto, aumentou pouco no último ano, chegando a 50,9%, o que representa 5.293.091 jovens.
A desigualdade da inclusão dos estudantes na etapa educacional correta aumenta conforme a condição socioeconômica e regional. Entre os 20% mais pobres da população brasileira (cuja renda não ultrapassa R$ 584 por família), houve o maior crescimento em pontos percentuais na análise da taxa de escolarização líquida da população de 15 a 17 anos por renda familiar. Nos últimos cinco anos, saltou de 21,5% para 29,3% em 2008 e para 32,6% em 2009.
O número está muito distante da quantidade de adolescentes entre os 20% mais ricos que frequentam a série correta: 74,8%. Há uma particularidade, no entanto, que chama a atenção nos dados: houve uma queda de escolarização dos estudantes com idade entre 15 e 17 anos mais ricos de 1,3 ponto percentual. Em 2008, 76,1% deles cursavam o ensino médio.

Escolarização X renda familiar

Os estudantes das famílias mais pobres com idade entre 15 e 17 anos estão mais atrasados nos estudos. As taxas de escolarização, que medem a porcentagem da população com essa faixa etária que está na etapa educacional correta, mostram que as diferenças são grandes (em %)
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PNAD / IBGE

Daniel Ximenes, diretor de Estudos e Acompanhamento das Vulnerabilidades Educacionais da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação, acredita que o programa Bolsa Família tenha contribuído para o aumento de jovens pobres no ensino médio. “Esses adolescentes estão sendo acompanhados há alguns anos. O hábito de manter o filho na escola está crescendo”, diz.
Além disso, Ximenes aponta os investimentos feitos pelo ministério em áreas mais carentes, como o Plano de Ações Articuladas e Plano de Desenvolvimento da Educação, como essenciais para garantir o aumento da progressão dos adolescentes mais pobres nos estudos. Ele reconhece, no entanto, que os números não revelam o cenário ideal.
“É preciso criar um pacto entre a União e os Estados e municípios para garantir estabilidade ao percurso educacional das crianças brasileiras. Temos de continuar investindo para reduzir as curvas de desigualdade, sem deixar de apoiar o resto. As taxas precisam melhorar para todos”, afirma Ximenes.
Desigualdades
Os dados são ainda mais alarmantes quando comparadas as regiões. Norte e Nordeste têm os piores índices de jovens de 15 a 17 anos estudando na série adequada. Apenas 39,1% e 39,2% da população nessa faixa etária, respectivamente, cursam o ensino médio. No Sudeste, o número sobe para 60,5%. A desigualdade também é percebida quando se analisa a cor da pele do estudante. A quantidade de negros e pardos com idade entre 15 e 17 anos no ensino médio é inferior à de alunos brancos: 43,5% contra 60,3%.

Jovens de 15 a 17 anos no ensino médio

As taxas de escolarização líquida - que medem a porcentagem da população com essa faixa etária que está na etapa educacional correta - mostram que os índices são baixos em todo o País e que há grande desigualdade regional (em %)
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PNAD / IBGE
Clélia Brandão, integrante do Conselho Nacional de Educação (CNE), defende que o ensino médio seja visto como “estratégia nacional”. Para ela, o número de matrículas nessa etapa, especialmente quando se olha a idade dos jovens, é muito pequeno. “Uma sociedade em crescimento como a nossa, que não tem a metade dos adolescentes que deveria no ensino médio, está deixando o jovem sem condições mínimas para exercer seus direitos”, critica.
Para a conselheira, é preciso repensar a organização do ensino médio e investir na formação de professores para atender a carência de profissionais nessa etapa educacional. Candido Gomes, professor da Cátedra Unesco de Juventude, Educação e Sociedade da Universidade Católica de Brasília, acredita que os dados da PNAD mostram que o País continua avançando “em pequenos passos” na área educacional.
“O Brasil tem melhorado um pouquinho a eficiência, mas os problemas mais difíceis de atacar, que são a qualidade e a democratização do acesso continuam de pé. Continuamos sem sequer completar o ensino fundamental obrigatório, já que a população tem, em média, 7,2 anos de estudo”, diz.
Gomes acredita que é preciso mudar a qualidade das escolas. Ele especula, inclusive, que a queda na taxa de jovens ricos de 15 a 17 anos no ensino médio pode ter caído por causa de uma “busca de oportunidades fora do País” para atender melhor aos anseios dessa juventude.
Fonte: ultimosegundo.com.br

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